Brasil Ride Insider
Por Hugo Prado Neto
Aquela época do ano novamente, onde a gente percebe que está inscrito em uma das maiores provas de MTB do mundo e agora faltam apenas alguns dias. Muitas dúvidas, porque certeza mesmo só depois de cada etapa dessa jornada! Organização de logística pré-prova, reflexões sobre a preparação física e mental para evitar autossabotagens, bike check-in e vamos mais uma vez. Uma verdadeira experiência de um mix de emoções, picos de ansiedade, vales de energia, de ânimo e muito mais. Uma experiência onde nem o atleta profissional é a mesma pessoa após concluir os 7 dias de prova, e quem dirá nós, simples mortais, amadores sérios, em busca de adrenalina, emoção, e superação em cima da magrela. Por 7 dias consecutivos, uma verdadeira overdose do Mountain Bike, de esporte, de vida! Compilei abaixo alguns “insights” e dicas para vocês terem o melhor Brasil Ride “ever” baseado na minha preparação para meu 9º Brasil Ride, e, talvez minha 45ª corrida de etapas?! Por ai, mas isso não importa, porque a cada prova, cada edição, uma nova caixinha de surpresas.
Desossando a prova
Prólogo
A minha dica para a maioria dos atletas amadores que estarão para finalizar, ou melhorar o tempo geral deles é: Ter um ”approach” de fazer um prólogo sólido mas focando em segurança e integridade física e do equipamento. E o principal: foco em fazer do prólogo uma etapa para “ativar” as pernas, eliminar ansiedade pré-prova, e se preparar para as próximas etapas em diante. É muito comum entrarmos bem preparados para uma prova de etapas e errar a mão na intensidade inicial, e consequentemente pagar um preço alto mais tarde.
Na visão dos atletas profissionais não é tão diferente, uma vez que o grosso dos segundos ou minutos ganhos será a partir da etapa longa de ida para Guaratinga. Claro que algumas duplas especializadas em XCO podem se arriscar mais um pouco para a glória do dia, mas não se enganem, as duplas que estão buscando a conquista geral do título sabem, que falta muita prova pela frente após essa etapa.
Etapas 2,3,4,5; A espinha dorsal da Brasil Ride;
Agora sim, a corrida começou de verdade. A 2ª etapa indo para Guaratinga até o final da 5ª etapa, retornando para Arraial, marcam a parte central e crucial dessa prova. O Prólogo é moleza se comparado a esses quatro dias, a partir de agora as etapas exigem gerenciamento e execução de vários aspectos complexos que são entrelaçados e ditam o sucesso da conclusão do dia. Uma boa alimentação e hidratação, aliada a uma excelente estratégia de prova no sentido de conseguir usar pelotões e principalmente dosagem de força, equipamento bem cuidado, boa noite de sono no dia anterior entre outros fatores. A etapa de ida é longa, incremental na altimetria, pode ser quente ou chuvosa (risos), e com uma característica de longos trechos com um giro constante e “misturado” a subidas íngremes, curtas e de alto torque, algumas dessas no início da etapa e, que, no final exigem uma preparação neuromuscular excepcional para evitar câimbras e otimizar o pedal em todas as partes da prova. Em 2018 mantive uma média de 86RPM durante a segunda etapa. E é claro que vem também a questão da administração da alimentação e hidratação onde um monitoramento constante deve ser feito por cada atleta. Dica principal e super básica: Diluir o sport drink de vocês para ter somente 1,5-4% de carboidrato na sua composição final, e nada mais que isso! Mas a dica principal é não se empolgar no início, respeitar a distância da etapa e ter uma boa performance no terço final é a grande chave do sucesso. Para os amadores basta regular um Z2 alto beliscando um Z3 alto até no máximo um z4. Sendo amador e com ambição de terminar a prova e ter um rendimento bom no final da mesma é o que eu sugeriria como PACE de potência. E claro que nada é uma receita de bolo! E quem não tem medidor de potência? Aí a dica se torna ir pela percepção de esforço e NÃO pela FC, uma vez que FC não é referência de performance e ela pode te sabotar a uma demanda metabólica que o ciclista está de fato tendo naquele momento durante a etapa. Percepção de esforço é muita arte relacionada as horas acumuladas de treino de acordo com a expêriencia de cada um, mas repito, se errar, erre para menos e não para mais! E os prós? Novamente existem várias similaridades na estratégia de prova dos amadores. A corrida é vencida nas últimas 1:15hrs-2hrs de prova e é ali que, a resistência a fadiga se torna o principal determinante do sucesso da dupla e não necessariamente seu alto FTP! Ano passado eu fiz uma boa prova com o Roel, chegando em 3º geral. E o que foi a peça central para esse sucesso? Resistência a fadiga e constância na potência. Notem que houve apenas uma queda de 10% na minha potência em quase 5hrs. Para o amador diria que 20% é um bom número!
Mais um desafio superado! Vencemos um monstro de mais de 130k! E agora vamos à 3ª etapa: Essa etapa costumava ser super técnica e longa, mas desde o último ano, me parece que ela será com 2 voltas de 30 e poucos Kms. Mais uma vez, é importante não se empolgar, mas para quem é mais explosivo na Elite é capitalizar e focar em vencer a etapa, abrindo alguns segundos ou até minutos de duplas de maratonistas natos. É possível ver gap final na ponta do pelotão! Com o desenrolar do prólogo e da 1ª etapa longa, os atletas amadores já tem uma noção de quais duplas estão rodando muito acima, perto deles ou muito atrás, então formar aliados de circunstância pode ser uma boa opção nessa etapa. De qualquer forma, o pelotão tem que ter coerência com o ritmo ideal para cada um que nele está porque lembramos: há sempre o próximo dia, a 3ª etapa.
E o próximo dia é nada mais nada menos do que a etapa rainha da prova. BRUTAL, sem piedade, com terreno variado e subidas longas e íngremes, com um alto torque, descidas alucinantes e tudo mais que a gente imaginar. Etapa aonde o filho chora e a mãe não escuta, literalmente! A minha sugestão para os amadores: comecem em um ritmo de aquecimento mesmo, Z2 beliscando um z3 nas subidas. Tente subir as primeiras rampas dessa etapa com o mínimo de potência/força. A partir dos 20-30min encaixe o seu ritmo de prova, e se alimentem e hidratem constantemente. Não saltem pontos de hidratação e alimentação da prova, e gastem um tempo para pegar o alimento e líquido apropriados antes de sairem apressados. Não será por uma transição lenta de bike para ponto de apoio que vocês irão perder o time cut ou perder o adversário de vista. Para os profissionais, eita! Eu só espero que seja um dia bom das pernas, porque na altura do campeonato a gente só descobre como está no dia. Esse é o dia de glória ou de gerenciamento de catástrofe, mas o objetivo é um só: sobreviver para lutar por mais um dia, na etapa seguinte!
E o último dia da espinha dorsal da Brasil Ride chegou. Todo mundo de olho em finalizar essa etapa, chegar na praia, se jogar e finalizar as etapas relativamente curtas da prova. Essa etapa tem um início duro, com singles, subidas e descidas, depois um longo “downhill” em estradão até chegar no Parque Nacional do Pau Brasil. Essa etapa, às vezes, dá a impressão que nunca vai acabar, e é importante o amador e ou profissional estarem bem posicionados em algum pelotão. Será muito difícil de uma dupla se beneficiar rodando sozinha! Eu sugiro que rodem em grupos, para o bem de todos (risos). Vá por mim, com tantas horas de prova já e mais umas quatro horas nesse dia, tem muita oportunidade na parte final dessa etapa para abrir de algum adversário! Os últimos 10-15k são brutos devido as circunstâncias citadas (risos). E ainda tem a lua de início de início de trade tostando o lombo. Na questão alimentação e hidratação já é um momento que a gente está cansado de comer a mesma coisa, tanto açúcar e pouco sal então pode valer a pena tentar trazer uma maior variação de alimento intra prova.
Sobre o XCO: pode ser a prova mais dura da prova, e eu mesmo já senti na pele! Alta intensidade por 1:30hrs depois de quase 2 dezenas de horas em cima da bike é uma tarefa árdua. Os horários das largadas já com uma temperatura elevada e uma grande variação de terreno, o que exige esforços diferentes durante toda a prova, exigindo ainda mais do nosso já fadigado sistema neuromuscular. Para os amadores que querem ser finishers eu usaria esse dia para curtir o rolê, curtir a energia do público presente e soltar as pernas. Para os mesmos amadores em disputa e com consistência na distribuição de força, não se enganem: Usem o seu camelback, quem vai de caramanhola: levem as duas e ainda usufruam de qualquer mangueira, baldes e mangueiras que os torcedores possam vir a ter (risos) além dos pontos de hidratação e alimentação. É um dia que engana pela distância relativamente curta!
E a 7ª etapa pessoal, é left over, ou seja, o que restou. É com certeza a etapa mais divertida com muito ‘’flowing’’ em single tracks dentro de mata fechada. O lance aqui é buscar fluidez nesses trechos técnicos e antecipar obstáculos, retomadas a fim de otimizar o pedal e surfar bonito, com eficiência no chão que geralmente é calçado de folhas das árvores!
Alguns insights; curiosidades; dicas pessoais.
-Tomo Vitamina C efervecente todos dia antes, durante e 1 semana depois da Brasil Ride.
-Café da manhã: Basicamente Smoothie de Beterraba/Cacau da Alquimia da Saúde, e nas etapas mais longas adiciono CHIA. Sempre uso o oléo de coco em pó para as etapas longas. Geralmente uso GHEE tanto no pré-prova quanto na alimentação intra prova. O Óleo de coco e Ghee são altamente recomendados e eu recomendo que os testem antes de utilizá-los em provas. Mas no final a dica é grande, sigo a filosofia e ciência do “almost empty”. O café da manhã pré etapa deve ser leve. O ‘’carbo load’’ deve ser feito no dia anterior , de preferência até por volta de 7horas da noite.
-Travesseiro, óleo essencial de lavanda, protetor auricular e tapa olho para dormir. Tomo proteína antes de dormir e durante a noite.
-Baby Wipes, ou um pano umedecido. Com esse item você limpa a bike(todos os componentes), tem maior higiene para no banheiro, e deixa as mãos e o corpo limpos. Altamente recomendável!
-Ar-condicionado em hotel é um grande problema! Já fiquei prejudicado em dois Brasil Rides por conta de usar ar condicionado! Evitem!
-O que puderem carregar de estrutura para vocês (alimentação, itens pessoais para ter um bom sono, itens de recuperação) tragam para depender o mínimo de terceiros e principalmente minimizar a mobilidade de vocês entre as etapas.
-Estarei começando a Brasil Ride com aproximadamente 90 de CTL e +20 TSB.
-A minha Brasil Ride 2018 custou exatas 19.298kcal (Incluindo aquecimento e desaquecimento)
Não é o tamanho do cachorro na briga, mas o tamanho da briga dentro do cachorro! Bora brigar na Bahia?! Boa prova pessoal!